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O privilégio de envelhecer

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Em 2016, a Organização Mundial da Saúde criou uma campanha global para concentrar a atenção nos estereótipos sobre o envelhecimento e designou 1° de outubro como Dia Internacional das Pessoas Idosas. A data, dentre outras coisas, tem como principal objetivo sensibilizar os povos para as questões relacionadas ao envelhecimento e à necessidade de proteger e cuidar da população idosa.

O Brasil, que por tanto tempo foi considerado jovem, caminha rapidamente para se consolidar como o país de uma população envelhecida. Segundo o IBGE, a expectativa de vida dos brasileiros vem aumentando a cada ano. Na década de 30, a expectativa era de 42 anos, em 2018 já tinha alcançado 76,3 anos. O Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas divulgou, em abril deste ano, que 10,53% da população tem 65 anos ou mais e esse percentual tende a dobrar nas próximas décadas. Consequentemente, para o Brasil, ter uma data para discutir o envelhecimento tem uma importância, ainda maior, uma vez que, em poucos anos, será um país de idosos, com grandes problemas sociais e econômicos a serem enfrentados.

O envelhecimento é um fenômeno biológico e inerente a toda espécie. No entanto, ele, também, tem uma dimensão existencial, pois modifica-se conforme a relação do indivíduo com o tempo, com o mundo e com a própria história. Na sociedade capitalista, a velhice está vinculada à ideia de produtividade. Quando o indivíduo não é mais capaz de gerar riqueza, perde o valor social. Na China e no Japão, ela é sinônimo de sabedoria. Os idosos são tratados com respeito e atenção pela vasta experiência acumulada. Neste aspecto, o Brasil precisa avançar, cuidando melhor dos idosos, propondo políticas públicas de prevenção, acompanhamento e zelo. Deve combater o preconceito etário, reconhecendo a potencialidade laborativa e criatividade dos idosos, ouvindo e valorizando suas histórias.

Segundo o cantor David Bowie: "O envelhecimento é um processo extraordinário em que você se torna a pessoa que sempre deveria ter sido". Tenho que concordar com ele. Conforme a idade avança, vamos perdendo os medos. Enfrentamos com mais segurança e confiança os desafios da vida. Percebemos que algumas coisas que antes pareciam fundamentais, hoje são insignificantes. Priorizamos somente o que vale a pena. Deixamos de ser tão exigentes conosco e com os outros. Temos mais conhecimento do mundo e de nós mesmo. Ficamos mais experientes.

Apesar de, no Brasil, a velhice estar relacionada à perda, declínio, marginalização, realidade que não pode ser desconsiderada, para mim ela tem um significado diferente. Ela é sinônimo de sabedoria, acolhimento e paciência. Tem o cheiro de pão de casa, o gosto de arroz de leite e o aconchego do fogão a lenha. É a alegria de uma mesa cheia nos finais de semana. É o lugar onde qualquer problema tem solução e as histórias contadas são cheias de aventuras. Além disso, a velhice tem um olhar especial, não vê defeitos, apenas virtudes. É sinônimo de bem-estar, parceria e felicidade. Ela é chamada de avós. Em 1º de outubro de 1999, o então papa João Paulo II escreveu a Carta aos Anciãos, dentre tantas coisas importantes ele disse: "A terceira idade é uma dádiva de Deus e chegar a ela é um privilégio". Então, vamos aproveitar as dádivas que fazem parte de nosso convívio e esperar que Deus nos conceda o privilégio de chegar a tal etapa da vida, pois acredito que ela possa ser um período de novas descobertas, vivências e oportunidades.

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